segunda-feira, 27 de abril de 2009

Davi - parte 2

No post abaixo comecei a contar aqui a trajetória de David, um homem de origem muito humilde que nem completou o primário, mas que usa estratégias de marketing, como qualquer profissional graduado, para divulgar seu camelô no centro do Rio de Janeiro. Aí vai a conclusão da história.




David conseguiu os 12 reais que precisava para comprar o remédio que aliviaria as dores de Maria de Fátima e então foi correndo a farmácia. No entanto, no meio do caminho pensou: “Se eu gastar esse dinheiro em remédio agora vou ficar sem nada. Amanhã, quando eu precisar novamente, vou ter que pedir emprestado de novo. Vou ter que pedir dinheiro emprestado pelo resto da minha vida.”

Foi então que tomou a decisão de não usar aqueles 12 reais para comprar o remédio e sim doces para vender no trânsito. Em poucas horas, 12 se transformou em 24. Com a metade David comprou o remédio de sua esposa e com a outra metade comprou mais doces para vender no sinal. Três dias depois pagou a dívida que tinha com aquele porteiro que outrora tinha lhe emprestado os benditos 12 reais. Com o tempo juntou dinheiro e montou sua barraca de camelô. Oito meses depois finalmente conseguiu comprar uma casinha em Nilópolis e pode trazer a família de volta para morar com ele, uma vez que depois do nascimento de Tiago, ele e a mãe foram morar na casa da irmã de Maria de Fátima enquanto David se virava para juntar dinheiro e comprar um teto.

O camelô de David estava dando certo, mas depois de um período de introdução e crescimento no “mercado de vendedores ambulantes”, já começava a dar mostras de estagnação devido ao aparecimento de cada vez mais novos camelôs ao redor do seu. Foi nesse momento que o homem humilde que mal completou o primário pensou como homem de marketing. Ele percebeu que tinha que se diferenciar, que tinha que transcender o fato de ser um commodite e se tornar algo diferente dos outros. E para conseguir isso imaginou que deveria saber mais sobre as pessoas que compravam em sua barraca, ou seja, deveria ter um controle sobre as informações de seus clientes pois assim poderia saber do que eles mais gostavam e, a partir daí, descobrir maneiras de atrair mais gente.

Pra começar dividiu sua barraca em “setores” com em uma loja de departamentos. Mezzanino Diet, Mezzanino Engordiet, Setor de Refrigerantes, Sobreloja. Criou um Departamento de Concessão de Crédito, onde ele anotava o nome das pessoas que tinham conta na banca e também pra quem vendia fiado. Contudo, ele contava com a hipótese que cerca de 10% desse dinheiro nunca seria pago. Mas isso era o de menos para David pois ele sabia que o mais importante era agradar o cliente: primeiro atraí-lo e depois conquistar sua fidelidade. Com o tempo criou uma série de maneiras para conseguiu esse objetivo. Passou a sortear prêmios e, quando chegava o dia do sorteio que revelaria o vencedor, promovia uma verdadeira festa com direito a bolas de gás coloridas e muita animação no meio da rua.

Um dia Ricardo Boechat, então colunista do jornal O Globo, parou em frente a banca e comprou quatro reais em produtos. Ficou observando e reparou em coisas nada comuns para uma barraca de camelô: cartazes que anunciavam sorteio de uma bicicleta, “divisão por setores”, além da simpatia e carisma daquele vendedor tão sorridente. O resultado: no dia seguinte a Banca do David estava no jornal.

Depois de ter sido citado no jornal as coisas ficaram ainda melhores e parcerias com empresas que mandavam brindes em troca da exposição de sua marca na barraca começaram a acontecer. Até empresas do porte de uma United Airlines, Banco Real e Embratel se tornaram patrocinadores oficiais da banca, sendo que as duas últimas ofereceram, respectivamente, uma caderneta de poupança e 21 cartões de telefone para serem sorteados. Nunca satisfeito e sempre inovando para se diferenciar dos outros, David criou um Call Center e até uma página na internet.



A notícia do camelô com website chegou aos ouvidos de uma jornalista da revista Exame que acabou fazendo uma matéria sobre ele. Entre os leitores que viram a história de David estava José Carlos Teixeira Moreira, presidente do Instituto de Marketing Industrial, que na semana seguinte ligou para o call center da banca para convidar o camelô marketeiro para fazer uma palestra em São Paulo e contar sua incrível trajetória para uma platéia composta por um time de 180 executivos e empresários que estavam participando do 12º Encontro de Marketing Industrial, um dos eventos mais importantes da área no Brasil.

Estariam presentes representantes de empresas como 3M, Shell, Wolkswagen, entre outras. Foi um tremendo sucesso! David cativou a todos com seu jeito simpático e carismático exatamente como faz com seus clientes. Daí pra frente não parou mais e hoje em dia faz palestras por todo o país contando sua fantástica jornada de superação, determinação e sucesso. Sua barraca de camelô continua lá, no mesmo local onde anos antes morou com sua esposa grávida na calçada. Um exemplo não só de marketing, mas acima de tudo de vida pra todos nós!!!

2 comentários:

[camille paixão] disse...

caramba!
tem gnt q jah nasce com o marketing na veia.

não conhecia o The Camelot.
e adorei o artigo, Rafa.
coisa de brasileiro mesmo....rs.

bjOoooO =]

CIRURGIA PLÁSTICA disse...

Eu trabalhei na Lafarge uma multinacional e tive a oportunidade
de conhecer de perto esse talento, enquanto ministrava uma palestra para nós funcionários da Empresa.

A satisfação foi plena.
DEUS continue te abençoando.
Seleneide Morais
(Assessora Comercial 9107 7911)